sábado, 3 de setembro de 2011

A Morte de João Pessoa: significados para um movimento político

26 de julho de 1930. No final daquele dia, no por do sol, na Biblioteca Pública da capital da Paraíba, uma pequena multidão recebeu uma notícia bombástica: mataram o presidente João Pessoa. “Desorientados” e catatônicos, ficaram meia hora no local, pois não estavam a acreditar nos fatos ocorridos na Confeitaria Glória no Recife. Ao acordarem para realidade, saíram imediatamente do local e seguiram para uma esquina próxima onde se localizava o sobrado da família Gaudêncio. Derrubaram o portão principal e invadiram o casarão. Cadeiras, estantes, quadros, roupas, utensílios domésticos passaram a serem arremessados pelas janelas. A noite passou a ser iluminada pela fogueira que queimava os objetos do então Senador José Gaudêncio. Naquele momento, um deputado “perrepista” passava pelo local e pedia calma, se este não tivesse corrido, teria perdido a vida.
            Este foi um dos episódios ocorridos durante um período de grandes transformações na Paraíba. Num contexto mais amplo, tratava-se do Movimento de 1930 que “pôs fim” a política dos governadores instaurada pelo presidente da República Campos Sales e deu inicio ao governo de Getúlio Vargas. Assim, o movimento teve dois conteúdos precisos, o primeiro refere-se a uma revolução política do qual ocorreu uma substituição de homens no poder (civil); o segundo, uma transformação estrutural que se iniciou com o movimento tenentista em 1922 (militar).
            Para Octávio Ianni, a revolução foi um movimento que encerrou o período liberalista característico da República Velha e uniu num mesmo projeto, a sociedade e o Estado, num mundo predominantemente burguês. As mudanças globais, ocorridas com a I Grande Guerra Mundial e a Crise Econômica de 1929, esgotaram o modelo econômico brasileiro que protegia a exportação do café.
            O Estado protegia os cafeicultores e eram por estes dirigidos.  Logo, na sucessão presidencial, havia uma alternância entre Minas Gerais e São Paulo para assumir a vaga presidencial. São Paulo devido ao seu poder econômico, Minas Gerais por ter um amplo “curral” eleitoral. A “imprudência” do Presidente paulista Washington Luís em escolher para sucessor também um paulista, Júlio Preste, inovou a formação de um partido de oposição denominado Aliança Liberal. Formado pela aliança de três Estados – Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. A chapa encabeçava o gaúcho Getúlio Vargas como presidente e o presidente da Paraíba, João Pessoa, como vice. As eleições ocorreram em 1° de março de 1930. O pleito, com todos os vícios da República Velha, deu vitória ao presidente paulista Júlio Prestes. Mas em 30 de março do mesmo ano, Vargas se manifestou ao acusar as fraudes eleitorais e os maus costumes da política nacional. Semanas depois, radicais como Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor contataram descontentes que residiam na Paraíba, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Um esperava pelo outro para ter alguma iniciativa até que um fato mudaria a situação: a morte de João Pessoa.


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