26 de julho de 1930. No final daquele dia, no por do sol, na Biblioteca Pública da capital da Paraíba, uma pequena multidão recebeu uma notícia bombástica: mataram o presidente João Pessoa. “Desorientados” e catatônicos, ficaram meia hora no local, pois não estavam a acreditar nos fatos ocorridos na Confeitaria Glória no Recife. Ao acordarem para realidade, saíram imediatamente do local e seguiram para uma esquina próxima onde se localizava o sobrado da família Gaudêncio. Derrubaram o portão principal e invadiram o casarão. Cadeiras, estantes, quadros, roupas, utensílios domésticos passaram a serem arremessados pelas janelas. A noite passou a ser iluminada pela fogueira que queimava os objetos do então Senador José Gaudêncio. Naquele momento, um deputado “perrepista” passava pelo local e pedia calma, se este não tivesse corrido, teria perdido a vida.
Este foi um dos episódios ocorridos durante um período de grandes transformações na Paraíba. Num contexto mais amplo, tratava-se do Movimento de 1930 que “pôs fim” a política dos governadores instaurada pelo presidente da República Campos Sales e deu inicio ao governo de Getúlio Vargas. Assim, o movimento teve dois conteúdos precisos, o primeiro refere-se a uma revolução política do qual ocorreu uma substituição de homens no poder (civil); o segundo, uma transformação estrutural que se iniciou com o movimento tenentista em 1922 (militar).
Para Octávio Ianni, a revolução foi um movimento que encerrou o período liberalista característico da República Velha e uniu num mesmo projeto, a sociedade e o Estado, num mundo predominantemente burguês. As mudanças globais, ocorridas com a I Grande Guerra Mundial e a Crise Econômica de 1929, esgotaram o modelo econômico brasileiro que protegia a exportação do café.
O Estado protegia os cafeicultores e eram por estes dirigidos. Logo, na sucessão presidencial, havia uma alternância entre Minas Gerais e São Paulo para assumir a vaga presidencial. São Paulo devido ao seu poder econômico, Minas Gerais por ter um amplo “curral” eleitoral. A “imprudência” do Presidente paulista Washington Luís em escolher para sucessor também um paulista, Júlio Preste, inovou a formação de um partido de oposição denominado Aliança Liberal. Formado pela aliança de três Estados – Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. A chapa encabeçava o gaúcho Getúlio Vargas como presidente e o presidente da Paraíba, João Pessoa, como vice. As eleições ocorreram em 1° de março de 1930. O pleito, com todos os vícios da República Velha, deu vitória ao presidente paulista Júlio Prestes. Mas em 30 de março do mesmo ano, Vargas se manifestou ao acusar as fraudes eleitorais e os maus costumes da política nacional. Semanas depois, radicais como Oswaldo Aranha e Lindolfo Collor contataram descontentes que residiam na Paraíba, em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul. Um esperava pelo outro para ter alguma iniciativa até que um fato mudaria a situação: a morte de João Pessoa.
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