quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A santificação de João Pessoa em São João do Cariri em 1931

O cronograma projetado para a semana cívica em decorrência da morte de João Pessoa, em 1931, escrito por membros da família Brito[1], demonstra bem a mistificação da família como arautos da “Revolução” de 1930 em São João do Cariri. Não menos importante do que o hasteamento da bandeira do Nego[2] no dia 19 de julho de 1931. Três fatos chamam a atenção a mistificação construída pela família Brito. O primeiro fato ocorreu no dia 26 às 12:00 horas: “Exposição do retrato do presidente João Pessoa no Edifício da Prefeitura Municipal, sendo nessa ocasião cantado o hymno a “João Pessoa”, pelos alunos das escolas, acompanhados pela banda de música”. O primeiro fato demonstra a construção de símbolos em torno do mito “João Pessoa”, do qual até mesmo os estudantes eram doutrinados e senão, obrigados a cantar o hino ao “mártir”.
O segundo fato é mais estrambólico ainda, ocorrido uma hora após cantarem o hino houve “distribuição de esmolas aos pobres pelas professoras d. Ana Cavalcante e Albertina Ramos”. O fato de dar esmola numa data de “co-memoração” tem sentido estritamente político. Fica claro a construção do “político bondoso” em prol da memória do “bondoso” presidente da Paraíba. Os Britos eram amigos de João Pessoa, os Britos eram bons, eles davam esmola que nem João Pessoa. Apesar de que João Pessoa, em sua administração, não adotou práticas populistas. Assim, os Britos estavam a construir uma imagem de salvadores.
O terceiro fato evidencia o papel religioso que João Pessoa estava representar na população de São João do Cariri: “Passeata cívica percorrendo as principais ruas da cidade, sendo conduzido o retrato do presidente João Pessoa, por duas senhoritas, e ouvindo-se no percurso vários oradores”. Não é difícil perceber que João Pessoa estava em transformação de uma entidade politica para religiosa, nas homenagens em São João do Cariri, ele era um santo. Se apoiar na imagem de João Pessoa foi uma estratégia política que os Britos utilizaram para angariarem a permanência da chefia política do município.

Funeral de João Pessoa

[1] A UNIÃO, 18 de jul. 1931, p.3.
[2] Atual bandeira da Paraíba, que simboliza o luto e o sangue de João Pessoa. O “Nego” faz referencia a negação do apoio de João Pessoa à candidatura de Júlio Prestes.


Um comentário:

  1. Vídeo: Apologia ao herói João Pessoa - Eu nego a mudança da bandeira da Paraíba: www.youtube.com/victorgeo10

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