quarta-feira, 2 de maio de 2012

Freyre e Post: Maravilhoso e Realidade no cotidiano colonial

O açúcar: monocultura implantada por Portugal no século XVI que foi tema freqüente da Obra de Post e tema principal para o livro Nordeste de Gilberto Freyre, foi o produto que formou a sociedade brasileira. Frans Post indicou o Maravilho, Gilberto Freyre mostrou o seu papel na formação social do povo brasileiro. Maravilhoso porque tudo aquilo que impressiona a visão é chamado de Maravilhoso, logo a harmonia dos bichos “estranhos” e da paz nos engenhos impressiona a visão. Dentro deste universo ocorreu a gestação da sociedade brasileira como explica Gilberto Freyre na sua Obra Casa-Grande & Senzala através da miscigenação. Uma terra usada para a economia de exportação, que deixava claro a hierarquização, afastando os grupos e ao mesmo tempo os unindo através da solidão dessas terras longínquas (tendo como base a Europa).

            A figura apresenta uma das paisagens de engenho de Post. Nela apresenta-se a estrutura apresentada por Freyre do qual iremos descrever. Ao fundo se encontra a Igreja, logo na frente temos a Casa-Grande e em sua frente o engenho onde os escravos trabalham harmoniosamente. Posição que lembra as três ordens sociais do feudalismo europeu, a Igreja acima em constante contato com Deus, a Casa-Grande que interliga Deus aos “servos”, que neste caso são os índios e os afros. Três classes separadas, em constante briga. Os jesuítas não se davam bem com os senhores de engenho; um visava o mundo espiritual e o outro o mundo econômico e dentro desse jogo se encontrava a massa trabalhadora.
            Até que ponto vai à realidade na figura acima? Percebe-se que dentro da mata há uma cobra, aves e um animal exótico. Provavelmente eles não deveriam estar ali. O que Post gravou estava em seu imaginário, por isto que esta pintura pode ser considerada como uma fonte iconográfica do maravilhoso colonial. Enquanto a realidade, os homens trabalhando, as estruturas arquitetônicas, o rio e o que poderia ser por detrás da mata... uma casa de farinha ou até mesmo a senzala são formas concretas da vida colonial.
            Logo se observa que há poderes na figura. O poder do senhor de engenho, nem totalmente um senhor feudal e nem um capitalista, mas sim um poder intermediário, em construção. Para Gilberto Freyre foi o regime da economia patriarcal. O senhor patriarcal que controlava a monocultura latifundiária, o açúcar como ouro, e para seu trabalho explorava os negros e os índios. Era um mundo de exploração. A Casa-Grande passou a ser o centro administrativo, mas ao mesmo tempo em que ela separava, ela unia como diz Freire no Prefácio à 1º edição de Casa Grande & Senzala:

             “Mas a casa-grande patriarcal não foi apenas fortaleza, capela, escola, santa casa, harém, convento de moças, hospedaria (...) foi também banco”. (Casa-Grande & Senzala. Global editora. Pg. 40).
           
            A Casa-Grande também foi símbolo de união. Como Freire diz acima, a casa-grande cumpriu vários papéis sociais que uniam as pessoas.  União esta que como diz Freire, escravos entravam em direto contato com o senhor, principalmente as escravas negras. Faltava mulher branca na colônia, nos momentos de carência eram as negras que os senhores recorriam e os filhos gerados dessa união tornavam-se novos escravos. Se fosse ao caso concreto da miscigenação neste trabalho, o mais recomendado seria as pinturas etnográficas de Albert Eckhout como retratou Pesavento em um de seus artigos publicados. Ao olhar para uma pintura de Post, observa-se o cotidiano que se circulava entre a Casa-Grande, a Igreja e o Engenho.
            O senhor era o dono do poder, suas casas eram feias, mas ao mesmo tempo forte contemplando o seu poderio, se medimos o seu poder ele vai da Igreja ao simples escravo. Foi esse ser senhorial que foi o verdadeiro dono da construção do Brasil. Da Casa-Grande à Senzala.
           
A Senzala por si foi o centro de alojamento da mão-de-obra açucareira e sua mesclagem com a Casa-Grande resultou no alicerce nativista. Essa mesclagem forneceu a roupagem para a economia (monocultura), o transporte (o carro- de- boi e o cavalo), para a religião (catolicismo patriarcal), o sexo (poligamia) e para os diversos papeis que a Casa-Grande oferecia. A semente foi plantada... E a partir desses valores estava o nascimento do Brasil.

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