Gratuliano Brito assumiu a interventoria com dois grandiosos obstáculos: a seca de1932 que assolava inclusive sua terra natal e a ameaça da Revolução Constitucionalista em São Paulo. Assim , o discurso revolucionário esteve presente em quase todas as páginas do jornal A União, durante seus dois primeiros meses. Gratuliano demonstrou ser um bom orador e sempre trouxe à tona o “espírito” de João Pessoa nas horas de atribulações.
Em julho de 1932, dias depois de Gratuliano Brito assumir a interventoria da Paraíba, estourou em São Paulo a Revolução Constitucionalista liderada pelos antigos oligarcas paulistas que perderam privilégios durante o Movimento de 1930. Durante a “Revolução”o Partido Democrático era rival do Partido Republicano Paulista (PRP) encabeçada por Júlio Prestes. O Partido Democrático apoiou Vargas no Movimento de 1930 e esperava receber deste os mesmos privilégios que tinham o PRP na República Velha, fato que não aconteceu. Além disto, eles estavam insatisfeitos com a presença do interventor pernambucano João Alberto, devido ao fato deste ser “forasteiro”. Ainda compunham a oposição paulista a Vargas, os cafeicultores e militares descontente com o privilégio dos tenentes.
Para amenizar a crise política com São Paulo Vargas lançou um Novo Código Eleitoral e um decreto marcando as eleições para 3 de maio de 1933. Ao mesmo que nomeou um interventor paulista e civil, Pedro de Toledo. Mas como afirma Skidmore (1932, p.37):
O Estado e a cidade de São Paulo tinham um tal complexo de superioridade em relação ao resto do Brasil que um movimento de oposição ao govêrno federal poderia ganhar muitos adeptos que nada tinham de comum, além da sua apaixonada qualificação como paulistas.
Em 9 de julho de 1932 São Paulo iniciou a revolta que ficou conhecido como Revolução Constituição. Vargas detinha grande apoio militar, com exceção de alguns quartéis do Mato Grosso. Além do mais, ele teve a colaboração dos soldados dos Estados que participaram mais ativamente no Movimento de 1930. São Paulo foi cercada pelo Rio Grande do Sul ao sul e por Minas Gerais e os estados nordestinos ao Norte, incluindo as forças militares da Paraíba, motivo de reavivamento do discurso “revolucionário” dos aliancistas.
Quando Gratuliano Brito soube da Revolução Constitucionalista de 1932, estava em Cajazeiras, cidade do alto sertão paraibano. Este recebeu um telegrama do Ministro Francisco Campos, que descrevia a revolta no Estado do Mato Grosso. Imediatamente, Gratuliano respondeu o telegrama e notificou o retorno para a capital, para prestar apoio ao governo central[1]. O espírito revolucionário de 1930 tinha retornado no discurso dos “aliancistas”. Como retorno da tensão dos 70 dias antecedentes do Movimento de 1930, a Paraíba se viu num verdadeiro campo de batalha.
Gratuliano, jovem interventor e que teve grande apreço pela “Revolução”, trocava constantemente telegramas com o interventor Flôres da Cunha do Rio Grande do Sul, relembravam os tempos gloriosos da vitória de outubro e incentivavam a soldadesca a salvar a República[2]. Dois discursos foram publicados por Gratuliano Brito de incentivo aos soldados que marchavam para São Paulo. Nota-se que em ambos os discursos, “a Revolução” de 1930 era a garantia de vitória das tropas.[3] A semana de envio das tropas era uma semana de “co-memorações” em relação a morte de João Pessoa e ao dia do Nego. Assim, os primeiros dias do Governo de Gratuliano Brito foram conturbados e voltados diretamente contra a Revolução Constitucionalista.
[1]A UNIÃO, 12 de jul. 1932, p.1.
[2]A UNIÃO, 18 de jul. 1932, p.1.
[3] “Marchae soldados da Parahyba, que a victoria é certa. Só tenho duas coisas a pedir-vos; no aceso do combate, lembrae-vos de que antes de tudo sois parahybanos e que o espírito de João Pessoa paira por sobre vossas cabeças, iluminando as vossas trincheiras e abençoando a vossa bravura”. A UNIÃO, 21,jul,1932.p1. No dia do Nego, Gratuliano publicou o seguinte discurso: “Vede bem; não combatemos São Paulo e sim meia dúzia de políticos oportunistas que, abusando da irreflexão de uma mocidade civil e militar, culta e vibrátil, desencadeia uma lucta fratricida e fica nos gabinetes para usufruir depois os proventos do seu plano. Marchae, soldados da Parahyba, que a victória é certa”. A UNIÃO, 29 de jul,1932,p.1.
Lembro, por oportuno, que a Policia Militar da Paraíba enviou mais de mil homens para lutar contra os revolucionários de São Paulo. Um Batalhão lutou na frente norte, pelo Estado de Minas Gerais. O comandante desse Batalhão era o Capitão Aristóteles de Souza Dantas, Oficial do Exercito que poucos meses antes tinha sido Comandante Geral dessa Corporação. O efetivo desse Batalhão era o do Quadro Permanente da Polícia Militar. O Comandante dessa frente, formado por Batalhões do Exercito e de diversas Polícias, era o Coronel Eurico Gaspar Dutra. Depois das lutas Dutra fez muitos elogios ao Batalhão da Paraíba.
ResponderExcluirNa outra frente, ao sul de São Paulo, por territórios do Paraná, atuou o Batalhão da Paraíba comandado pelo Major Guilherme Falconi. Foi o Primeiro Batalhão Provisório formado por voluntários. Parte dele tinha lutado em Princesa, em 1930, também na condição de Provisório. O Comandante dessa frente era o General Waldomiro, que depois assumiu o Governo de São Paulo, na condição de Interventor. Esse militar, também depois das lutas fez largos elogios aos Comandados pro Falconi. Em um dos combates mais intenso que esse Batalhão enfrentou, a luta terminou com o uso de armas branca, onde os paraibanos se destacaram pela bravura.
Além desses efetivos a Paraíba enviou também para aquela luta mais dois Batalhões Provisórios, que , entretanto não chegaram a entrar em combate porque quando lá chegaram a revolução tinha terminado. O Comandante de um desses Batalhões, o Segundo, foi o Dr. Odon Bezerra, comissionado como Tenente Coronel.
É incrível como com São Paulo, que perdeu a luta, homenageia tanto seus participantes nessa luta enquanto na Paraíba os vencedores não são conhecidos nem lembrados.