Érico Veríssimo
Enquanto The Walking Dead espalha terror pós-apocalíptico com zumbis comedores de carne nos Estados Unidos, nossos zumbis foram mais inteligentes, pois aproveitam de sua morte para mostrar a podridão da política brasileira. Hoje escrevo da obra "Incidente em Antares" de Érico Veríssimo". Tudo começou com a greve geral que tomou conta da cidade gaúcha fictícia de Antares, lugar de guerra entre as famílias Vacariano e Campolargo. Como os coveiros aderiram a greve, sete mortos não puderam ser enterrados. Durante a noite eles se levantaram e foram visitar seus lares, logo após se uniram no coreto para mostrar a corrupção e as imoralidades das autoridades da cidade. Eles narram tudo aquilo que não se podia falar vivo durante a Ditadura Militar, o que torna o Érico Veríssimo, na minha opinião, um dos maiores dribladores da censura posta pelo regime ditatorial.
Os personagens são ricos, atraentes e diferentes entre si. Reúnem diversas classes sociais e ideologias: A matriarca Dona Quitéria (catolicismo e coronelismo), o advogado corrupto Cícero Branco (corno), o maestro Menandro Olinda (depressivo), o sapateiro Barcelona (anarquista), o operário torturado João Brás (socialista), a prostituta Erotildes (romântica) e o "imoral" Pudim de Cachaça.
A obra de Veríssimo foi adaptada para TV por Paulo José e está disponível em DVD. Mas aconselho todos lerem o livro. Observarão que os mortos-vivos brasileiros não são tão aleluiados como demonstra ser os zumbis americanos e boa parte de nossa sociedade.
Série da Rede Globo - 1994
Edição de bolso Cia. das Letras
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