Hoje completa 100 anos do nascimento do historiador Sérgio Buarque de Holanda, um dos maiores nomes da Sociologia e da Historiografia brasileira. Pai do cantor Chico Buarque, Sérgio Buarque se destaca juntamente com Gilberto Freire e Caio Prado Junior como um dos maiores intérpretes da sociedade brasileira pós-1930.
Sua principal obra, Raízes do Brasil, foi publicada em 1936 e representa para o Brasil uma séria discussão sobre seu caráter político. Destaca-se a ideia de que o brasileiro foi marcado desde a colonização pela cordialidade:
"A cordialidade....a lhaneza no trato, a hospitalidade, a generosidade, virtudes tão gabadas por estrangeiros que nos visitam, representam com efeito um traço definitivo do caráter brasileiro..."
Esta mesma cordialidade é uma das mazelas da sociedade brasileira. Por se tratar sempre de tratamento cordial, principalmente na relação entre a população e os nobres, a sociedade brasileira se desenvolveu em favorecimento das classes dominantes, fato que foi criticado pelos comunistas e integralistas durante a publicação do livro. Daí a sociedade permitir a invasão do público pelo privado, fato que surgiu primeiramente com o poder dado as famílias que chegavam de Portugal.
Aqui entra o debate sobre o que é o público e o que é privado na consolidação política do Brasil. A maior contribuição de relevo para este debate veio da obra de Sérgio Buarque de Holanda. Para ele, a empresa colonial formada pela família patriarcal, propiciou “a invasão do público pelo privado, do Estado pela família”. (HOLANDA, 1995, p.82.) A família como empreendedor foi, assim como em Freyre, a base da formação político-social do Brasil. A ideia de Estado era a mesma de uma grande união familiar que dirigia uma grande empresa. Assim, a política e a economia determinaram o papel da família extensa:
O primeiro princípio da economia política é que o soberano de cada nação deve considerar-se como chefe ou cabeça de uma vasta família, e consequentemente amparar a todos que nela estão como seus filhos e cooperadores da geral felicidade.
Este modelo coloca a família no lugar do Estado, não sendo de se admirar que nosso Congresso possua tantas heranças familiais.
Vale salientar que para Holanda (1995, p.141), o Estado não era uma evolução da família como propunham os historiadores dos oitocentos, mas sim uma “descontinuidade” e até mesmo “uma oposição”. Isto devido a constante inter-relação entre público e privado. É com a transgressão do público pelo privado que o “empregado”, ou o sujeito que é classificado pela “amizade desigual”, passa a ser cidadão. Esse modelo de mudança que transforma a família patriarcal em família nuclear e, consequentemente, o poder familiar em poder do Estado, é resultado da expansão da produção industrial. Assim, o poder patriarcal com base rural perde poder com o crescimento das cidades, fruto das mudanças de trabalho. Temos assim, a família como “bárbara” em oposição ao Estado “civilizado”.
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