terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

"E se?" na História em Slavoj Žižek



Slavoj Žižek é um filósofo crítico da sociedade pós-moderna. Esloveno, Žižek tem um pensamento original que critica a utopia liberalista e o socialismo vigente de um esquerda esfacelada da queda do muro de Berlim. Seus livros viajam por uma gama de temas e áreas do conhecimento que nos fazem refletir sobre o estado pós-traumático e traumático do capitalismo. 
Busco em sua obra a visão que o mesmo tem sobre História como disciplina para se obter conhecimento da sociedade no tempo, confesso que tenho encontrado "coisas" que a priore seriam logo criticadas pelo universo acadêmico, e uma dessas coisas foi o uso do "e se?" na História. "E se" Lênin não tivesse feito a revolução?  "E se" a Alemanha tivesse vencido a primeira guerra mundial? Logo a resposta de um professor que se denomina do "alto clero" seria assim: "não existe o "se" na História, pois não estudamos o que não aconteceu, mas o que aconteceu".
Para Slavoj Žižek o "e se?" deixa um espaço aberto para reflexão. 

Essa percepção de nossa realidade como um dos resultados possíveis de uma situação "aberta", muita vezes, nem mesmo o mais provável, a ideia de que outros resultados possíveis não são simplesmente eliminado, mas continuam assombrando nossa realidade "verdadeira" como espectros daquilo que poderia ter sido, dando a nossa realidade um status de extrema fragilidade e contingencia  não é de modo algum estranho ao marxismo; na verdade, baseia-se nesta percepção a sensação de urgência do ato revolucionário. (Vivendo no fim dos tempos, p.99)

Aí cabe ainda a ideia do determinismo histórico, do qual estamos fadado a um destino (Žižek trabalha neste caso especificamente com o marxismo). A revolução não veio porque passou do prazo e a pergunta para tal questão é "e se" fosse feito em determinado momento? Isto cria uma atmosfera de critica à realidade "verdadeira" e deixa tudo preparado para a primeira brecha que aparecer no sistema para se fazer a revolução. Segundo Žižek, foi assim que Lênin  perguntou antes de fazer a revolução: "e se não agirmos agora?". Da mesma forma, o passado deve ser olhado como um mar de oportunidades para refletirmos como chegamos no estagio atual, "como seria se fosse de outra forma?".  Žižek defende que devemos "pensar para trás" e pensar nas decisões que nos fizeram chegar no estagio atual, ao mesmo tempo, questionar estas decisões. No momento aberto das decisões, devemos refletir sobre nossas escolhas no contexto em que estamos vivendo, que escolha certa tomar...
Vale salientar que para o filósofo Žižek o liberalismo foi uma utopia construída que legitimou a realidade, mas que vários modelos de sociedade foram propostos além deste, o fato do liberalismo ser o vencedor não quer dizer que ele seja o modelo REAL de sociedade (este modelo criou a realidade). Sendo assim, pensar como seria caso outras alternativas de governo tivessem se estabelecido no século XX serve para refletirmos sobre as bonanças e maldades do sistema vencedor. 
A própria História é pensada de acordo com a sociedade que esta produzindo a Historiografia, o passado é remodelado constantemente e os "e se?" servem de críticas aos sistemas "inimigos", e as vezes, caso algo dê errado, os "e se" passam até a  se oficializarem.
Para além da historiografia, os "e se?" começam a invadir outras áreas como o cinema, exemplo máximo para o filme Bastados Inglórios de Quentin Tarantino (Hitler morre de uma maneira própria do diretor - e se a resistência francesa matasse o Fuhrer?).
Seria até uma maneira interessante de pensarmos o mito das mudanças radicais pacíficas do Brasil... E se 1968 derrubasse a Ditadura? E se Vargas não tivesse se suicidado? E se a América portuguesa tivesse perdido a batalha dos Guararapes? E se o Levante Comunista tivesse dado certo em 1935? É necessário pensarmos para trás para saber quais escolhas e não escolhas fizeram-nos chegar no estágio onde estamos. Porém, se não pensarmos assim, estaremos determinando a História a partir de apenas daquilo que aconteceu.

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